Há muitos anos atrás
No interior que eu fui criado
Fui um dos melhor peão
Que existiu praqueles lados
Numa daquelas fazendas
Aonde eu fui empregado
Amestrei um potro preto
Que para lidar com gado
E como rei das invernadas
Ele foi considerado
Certo dia no mangueiro
Eu estava distraído
Um mestiço furioso
Me pegou desprevenido
Se não fosse o potro preto
Hoje eu era falecido
Como um raio ele enfrentou
O mestiço enfurecido
Mas eu fiquei homem imprestável
E dali fui despedido
No lombo desse potranco
Fiz proezas importantes
Mas no mundo, meus amigos
Nossa vida é um instante
Hoje velho e acabado
Igual um mendigo errante
Eu fui rever minha terra
Pra lembrar o tempo de dante
E lá eu vi uma passagem
Que me fez chorar bastante
Lá no matador da vila
Eu vi o rei da invernada
De caminho para o corte
Por já não valer mais nada
Eu chamei ele por nome
Com a alma amargurada
Ele ainda relinchou
De cabeça levantada
Parece que até relembrou
A nossa vida já passada
Sem nada poder fazer
Pra aquele que me salvou
Meus olhos viram chorando
Quando ele no chão tombou
Às vezes chego a pensar
Que não existe mais amor
Como pode um homem rico
Que não tem mais onde pôr
Vender pro corte um animal
Que tanto serviço prestou