Quando meu velho partiu de mudança
Desse grande mundo que Deus criou
Eu fui o primeiro a mexer em suas coisas
Nos velhos pertences que ele deixou
Meu pai era pobre, morava num rancho
As coisas no chão, nos caibros e ganchos
Seu jeito de vida ninguém transformou
Achei a espingarda e também cartucho
A vara de pesca, anzol e enxadão
E na velha tuia as tralhas de roça
Botina, polaina, cabresto e abridão
A foice e o serrote, a enxada e o machado
E um trançador, a serra e um trado
E um arco de pua, enxó e facão
Nas coisas miúdas achei a saudade
Que foi cutucando a minha emoção
O seu canivete, o bingo e o paieiro
O pito de barro e a mão de pilão
Ali eu não o luxo e nem ouro
Só vi o retrato e um laço de couro
Do meu velho pai que viveu neste chão
Juntei o que vi e pus numa mala
Com letras bonitas por fora gravei
Contem a fortuna de um simples roceiro
Esse grande homem pra mim foi um rei
Agora pra mim a realidade
Ganhei do meu velho a simplicidade
A grande riqueza que dele eu herdei